As suas imagens dão à luz às visões do  mundo, em que diversos elementos são articulados para a criação de atmosferas regidas por inquietações. Surgem incômodos para quem vê, que despertam questões sobre a própria existência, principalmente em situações de crise humanitária.

Os números que surgem nas obras tanto remetem às vítimas do novo coronavírus como à recente crise de refugiados da Ucrânia ou, em termos históricos, a genocídios cometidos contra os judeus, os ciganos, os armênios ou os indígenas. Nessas situações e em muitas outras, a contagem das vítimas não dá conta da complexidade da situação. Os números tornam as dores anônimas. 

As imagens de Ita Stockinger são documentos de questões que se multiplicam ao longo dos séculos, sempre que se trata uma pessoa como parte de um conjunto, sem dar a devida atenção à sua individualidade. Trata-se de uma prática de que houve regimes autoritários, para tirar os rostos da dor. Uma pessoa com uniforme e número deixa de ser. Torna-se apenas um vazio de existir. 

A artista recupera as pessoas e seus personagens perdidos por diversas manifestações de sofrimento. Os tons densos do fundo e do cabelo, o rosto destruído e os números alertam que os múltiplos e complexos seres que há em nós, nunca devem ser apagados.

Ensaio publicado por Oscar Dambrósio,
Jornalista, Crítico de arte Pós Doc em Educação, Arte e História.

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Contagem, 2021

acrílica sobre tela
150 x 100 cm